Cipriano Carlos
Luckesi (VER PUBLICAÇÃO DE 20 DE ABRIL DE 2014)
Este material foi obtido através do website de Cipriano Carlos Luckesi
1.
Sobre ludicidade
Primeiro sobre ludicidade.
Usualmente os textos disponíveis, que abordam a questão da ludicidade,
tratam-na, predominantemente, sob a ótica de seu papel na vida humana: no
desenvolvimento humano, nos processos de ensino-aprendizagem, nos processos
terapêuticos, na recreação, no divertimento, no lazer; ou, então, abordam
repertórios de atividades lúdicas, descrevendo como realizá-las; e existem
ainda muitos outros estudos sociológicos ou históricos sobre esse fenômeno.
Pouco, porém, se tem tratado da ludicidade e das atividades lúdicas de um ponto
de vista interno e integral. É esse o meu objetivo neste texto, na busca de
oferecer uma melhor compreensão da definição que venho dando para esse fenômeno
em meus escritos. A abordagem que estou utilizando para conceituar o fenômeno
da ludicidade foca a experiência lúdica como uma experiência interna do sujeito
que a vivencia. É desse ponto de vista
que se segue tudo o que exponho abaixo, ou seja, não estou tratando de estudos
externos da atividade lúdica, tais como os sociológicos, os etnográficos, os
históricos ou os descritivos, que, sem sombra de dúvidas são sumamente
importantes. Estou me confrontando com as seguintes perguntas: O que é a
atividade lúdica para o sujeito que a vivencia? E, enquanto vivencia, que
efeitos essa experiência lhe produz?
Importa
observar que os conceitos, que aqui vamos tentar configurar, com um pouco mais
de precisão, tem sido reiteradamente discutidos e aprofundados nas reuniões
semanais do GEPEL – Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Ludicidade,
vinculado ao Programa de Pós-graduação da FACED/UFBA.
Em textos anteriores, a
partir de estudos e experimentos pessoais com atividades lúdicas, além do
ensino desses conhecimentos teórico-práticos na Pós-Graduação em Educação, da
Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia, tenho procurado
defender uma compreensão específica da ludicidade e das atividades lúdicas, que
estão a merecer uma melhor configuração, assim como aprofundamentos teóricos e
práticos.
Essa necessidade veio mais
ainda à tona, quando, recentemente, em nossa Pós-Graduação, pude assistir a
defesa de uma dissertação, da autoria de uma orientanda minha, na qual a
mestranda fez uso dos conceitos por mim formulados sobre o que é ludicidade e
sobre as atividades lúdicas. Parecia-me que os membros da Banca não
compreendiam o que ela falava, ou, devido estarem vinculados a outras exigências
conceituais sobre esse fenômeno, não conseguiam colocar-se disponíveis para
“uma escuta sensível” do que ela estava expondo. Assim sendo, vi-me na
obrigação de tentar uma melhor delimitação conceitual daquilo que expus
anteriormente sobre esse tema. É isso que me proponho fazer, neste escrito, no
limite das compreensões que tenho, neste momento; o que quer dizer que, mesmo
agora, não tenho, de forma alguma, a pretensão de apresentar uma configuração
conceitual de ludicidade e das atividades lúdicas, que possa atender a todas as
demandas dos leitores. Estou, aqui, mais uma vez, ensaiando abordar esse
fenômeno, que é complexo e múltiplo em suas manifestações.
Em
1998, escrevi um texto intitulado “Desenvolvimento dos estados de consciência e
ludicidade”, no qual explicitava a seguinte compreensão da ludicidade: “Tomando
por base os escritos, as falas e os debates, que tem se desenvolvido em torno
do que é lúdico, tenho tido a tendência em definir a atividade lúdica como
aquela que propicia a ‘plenitude da experiência’. Comumente se pensa que uma
atividade lúdica é uma atividade divertida. Poderá sê-la ou não. O que mais
caracteriza a ludicidade é a experiência de plenitude que ela possibilita a
quem a vivencia em seus atos”[2]
No
ano de 2000, retomei esse conceito de ludicidade em um artigo que escrevi para
a coletânea Educação e Ludicidade,
por mim organizada, como primeira publicação do GEPEL, intitulado “Educação,
ludicidade e prevenção de neuroses futuras: uma proposta pedagógica a partir da
Biossíntese”. Nessa oportunidade, assim, me expressei: “O que a ludicidade traz
de novo é o fato de que o ser humano, quando age ludicamente, vivencia uma
experiência plena. Com isso, queremos dizer que, na vivência de uma atividade
lúdica, cada um de nós estamos plenos, inteiros nesse momento; nos utilizamos
da atenção plena, como definem as tradições sagradas orientais. Enquanto
estamos participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na
nossa experiência, para qualquer outra coisa além dessa própria atividade. Não
há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis. Poderá
ocorrer, evidentemente, de estarmos no meio de uma atividade lúdica e, ao mesmo
tempo, estarmos divididos com outra coisa, mas aí, com certeza, não estaremos
verdadeiramente participando dessa atividade. Estaremos com o corpo aí
presente, mas com a mente em outro lugar e, então, nossa atividade não será
plena e, por isso mesmo, não será lúdica.
“Brincar,
jogar, agir ludicamente, exige uma entrega total do ser humano, corpo e mente,
ao mesmo tempo. A atividade lúdica não admite divisão; e, as próprias
atividades lúdicas, por si mesmas, nos conduzem para esse estado de
consciência. Se estivermos num salão de dança e estivermos verdadeiramente
dançando, não haverá lugar para outra coisa a não ser para o prazer e a alegria
do movimento ritmado, harmônico e gracioso do corpo. Contudo, se estivermos num
salão de dança, fazendo de conta que estamos dançando, mas de fato, estamos
observando, com o olhar crítico e julgativo, como os outros dançam, com
certeza, não estaremos vivenciando ludicamente esse momento”[3].
Importa
observar que nos dois trechos acima, estive tomando ludicidade como um estado
interno do sujeito que age e/ou vivencia situações lúdicas. Não estive,
tratando nem de suas características histórico-culturais, como faz Huizinga, em
seu livro Homo Ludens; nem de suas
características histórico-sociais, como faz Walter Benjamin, em seu livro Reflexões:
a criança, o brinquedo e a educação; ou como faz Tizuko Murchida Kichimoto,
em Jogos Infantis, ou ainda como fez Giles Brugère, em Jogo e
educação, trabalhando sociologicamente o conceito de jogo; nem estamos
tratando das funções terapêuticas das atividades lúdicas, como fazem Melanie
Klein, Arminda Aberastury, Bruno Bettelheim, D.W. Winnicott; assim como não
estive tratando das funções educativas, como fazem muitos autores que propõem
atividades lúdicas e jogos para a prática pedagógica.
Interessava-me
e interessa-me, no primeiro momento dessa discussão, abordar a ludicidade como
uma experiência interna “de consciência”, “um estado de espírito”, como dizemos
cotidianamente. Com isso, estou deixando claro o foco de meu esforço de
compreensão de ludicidade. Ludicidade, a meu ver, é um fenômeno interno do
sujeito, que possui manifestações no exterior. Assim, ludicidade foi e está
sendo entendida por mim a partir do lugar interno do sujeito.
Para
alargar um pouco a compreensão que venho defendendo de que “o ato lúdico
propicia uma experiência plena para o sujeito” e para situar essa compreensão
no seio de outras possíveis compreensões das atividades lúdicas, vou servir-me
do auxílio dos estudos de Ken Wilber, que nos ajudará, com certa facilidade, a
compreender que aquilo que estou propondo tem a ver somente com uma dimensão do
ser humano: a sua dimensão interna; a dimensão do seu desenvolvimento, da sua
identidade, da sua integridade; a dimensão do desenvolvimento do seu ground
interno[4],
como define David Boadella.
Ken
Wilber em seus livros Uma Breve História
do Universo[5], O olho do espírito[6], e em União da alma e dos sentidos[7], nos
indica que o ser humano possui quatro dimensões que devem ser levadas em
consideração, caso desejemos proceder uma abordagem integral do mesmo. O ser
humano realiza suas experiências em quatro dimensões; ainda que uma delas possa
estar predominando num determinado momento.
O quadro acima nos auxilia na compreensão do que o autor propõe: cada
ser humano, em suas experiências, vivencia quatro dimensões que são: 1.
individual/interior, 2. individual/exterior, 3. coletiva/interior, 4.
coletiva/exterior. Do lado esquerdo do gráfico, identificamos as dimensões
“interiores” e, do lado direito, as dimensões “exteriores” do ser humano; na
parte superior do gráfico, as dimensões individuais, seja a interior seja a
exterior; e, por último, na parte inferior, as dimensões coletivas, seja sob o
aspecto interior seja sob o aspecto exterior.
Com isso, podemos
compreender que o ser humano, em todas as suas experiências, realiza-se e
expressa-se em suas quatro dimensões, ainda que não possamos, ao mesmo tempo,
estar conscientes de todas elas, da: individual, externa, visível, observável,
comportamental (dimensão individual externa, representada no gráfico pelo
quadrante superior direito); ao mesmo tempo,
interna, que tem a ver com sentimento, com mente, com a compreensão
interna, interpretativa, hermenêutica do sujeito (dimensão interna representada
no gráfico pelo quadrante superior esquerdo). Contudo, ainda essa experiência
também se dá no coletivo comunitário, o que significa, na dimensão subjetiva,
que a situa no contexto dos valores, da cultura e da comunidade dentro do qual
ele está inserido (dimensão subjetiva coletiva, representada, no gráfico, pelo
quadrante inferior esquerdo); e, por último, se dá na dimensão coletiva
objetiva, sistêmica, constituindo uma rede interobjetiva de relações
observáveis (dimensão externa coletiva, representada no gráfico, pelo quadrante
inferior direito).
A dimensão
interior individual é aquela onde o ser humano vivencia uma experiência, dentro
de si mesmo, na dimensão do Eu, ou seja, a dimensão espiritual,
estética; dimensão que garante o crescimento individual interno, através das
múltiplas fases de desenvolvimento, que vão do pré-pessoal, pelo pessoal para o
transpessoal. Esse é o campo do pensar filosófico, da espiritualidade, da
introspecção psicológica, da criação artística, da percepção estética,...
A dimensão
interior coletiva é aquela onde o ser humano vivencia sua experiência de comunidade,
dos valores e sentimentos de viver e conviver com o outro e com os outros,
vivência da cultura e dos valores comuns, que dirigem a vida. É a dimensão do Nós
de nossa experiência, onde se faz presente a formação e a vivência da
ética e da moral. É o campo da sensação, dos sentimentos e da vivência com o
outro, do convívio, da ética, da moral,...
A dimensão
individual externa expressa, objetivamente, nossa experiência individual
interna, através das manifestações do nosso corpo, dos nossos sistemas fisiológicos
(nervoso, circulatório, respiratório) e do nosso comportamento psicossocial.
São elementos que podem ser estudados objetivamente, via os meios de
mensuração. É o campo do Ele individual. Esse é o campo da
fisiologia, anatomia, neurofisiologia, ciências comportamentais,...
A dimensão
coletiva externa se dá nas relações sistêmicas que constituem nossa vida,
através das relações interobjetivas. As múltiplas relações que agem e reagem
entre si, constituindo sistemas de elementos e variáveis que determinam
dialeticamente nosso modo de ser e de viver. É o campo do Ele
coletivo, que pode ser estudado objetivamente sob a ótica do funcionamento
dos sistemas. Esse campo é estudado pela sociologia, pela história social, pela
política, pelas abordagens sistêmicas em geral.
O campo do Eu só
pode ser percebido, estudado e compreendido pela interpretação. O campo do Nós
só pode ser verdadeiramente assimilado, estudado e compreendido pela vivência
mútua da cultura, com todos os seus valores, que só podem ser apreendidos
adequadamente por quem os vivencia. É praticamente impossível um forasteiro
tornar-se igual aos nativos. Ele se aproxima, ensaia, chega perto, mas não se
torna um igual. Ele será sempre um forasteiro que foi admitido como “um dos
nossos”. O campo do Ele, por outro lado, seja o individual ou o coletivo, pode
e deve ser apreendido pelos sistemas de mensuração e/ou demonstração objetivos.
Wilber diz que os campos do Ele individual e coletivo poderiam ser reunidos em
um único campo --- o do Ele ---, pois que ambos são apropriados e compreendidos
objetivamente, como o outro, independente de cada um de nós.
Assim sendo, uma
experiência integral do ser humano é aquela que o realiza em suas quatro
dimensões --- que permitem a vivência da estética e da espiritualidade, assim
como a experiência ética, ambas assentadas sobre a materialidade externa da
constituição bio-psicológica, de um lado, e dos sistemas sociais e históricos
de relações, de outro.
Dentro deste quadro de referência, as atividades
lúdicas (não a ludicidade), como todos e quaisquer outras experiência
humanas, poderão ser abordados a partir de cada um desses quatro quadrantes. Ou
seja, uma atividade lúdica, enquanto atividade propriamente dita, é vivida nas
quatro dimensões e, por isso poderá ser abordada, também, nos quatro
quadrantes. É exatamente devido a experiência dar-se (realizar-se) nas quatro
dimensões, que ela pode assim ser abordada. Ou seja, uma atividade, lúdica ou
não, dar-se-á nas quatro dimensões e deste modo deverá ser abordada. Será
abordada pela ótica do quadrante superior esquerdo, a ótica interna do sujeito
que realiza e vivencia essa atividade. Poderá ainda ser abordada pela ótica do
quadrante inferior esquerdo --- sob a ótica da convivência com os outros e da
cultura ---, o que permitirá vivenciar e desvendar os sentimentos comunitários,
resultantes do presente ou de um longo processo de heranças sócio culturais,
através dos quais, esses sentimentos adquiriram um sentido ou está adquirindo
um sentido novo neste momento de convivência. Por último, essa atividade lúdica
poderá ser abordada como um fenômeno social, através da observação, da contagem
de freqüências das vezes que essa atividade se manifesta no todo da sociedade,
na qual está inserida, assim como das relações interobjetivas, que causam,
sistemicamente, suas características.
Tomando esse referencial por base, quando definimos
ludicidade como um estado de consciência, estamos falando a partir do quadrante
superior esquerdo, ou seja, da vivência e percepção interna do sujeito. Uma
atividade só poderá ser plena para uma pessoa como sujeito, só ele poderá
vivenciar a “plenitude da experiência”, através de uma atividade. A ludicidade,
nesta perspectiva, é interna. Objetivamente, a partir do quadrante superior
direito, poderemos descrever uma atividade como lúdica, seu algoritmo, sua
configuração, suas regras, suas práticas visíveis; porém, para um determinado
sujeito, essa atividade, que descrevo como lúdica, poderá não sê-lo, em função
de sua história pessoal de vida (quadrante superior esquerdo), assim como em
função do meio social, no qual está inserido (quadrante inferior esquerdo) e em
função de sua assimilação interna dessa herança.
Deste modo, quando estamos definindo ludicidade como
um estado de consciência, onde se dá uma experiência em estado de plenitude,
não estamos falando, em si, das atividades objetivas que podem ser descritas
sociológica e culturalmente como atividade lúdica, como jogos ou coisa
semelhante. Estamos, sim, falando do estado interno do sujeito que vivencia a
experiência lúdica. Mesmo quando o sujeito está vivenciando essa experiência
com outros, a ludicidade é interna; a partilha e a convivência poderão
oferecer-lhe, e certamente oferece, sensações do prazer da convivência, mas,
ainda assim, essa sensação é interna de cada um, ainda que o grupo possa
harmonizar-se nessa sensação comum; porém um grupo, como grupo, não sente, mas
soma e engloba um sentimento que se torna comum; porém, em última instância
quem sente é o sujeito.
Certamente que vivenciar uma experiência lúdica em
grupo é muito diferente de praticá-la sozinho. O grupo tem a força e a energia
do grupo; ele se movimenta, se sustenta, estimula, puxa a alegria, mas somente
cada individuo, nesse conjunto vital e vitalizado, poderá viver essa sensação
de alegria, partilhada no grupo.
Deste modo, uma atividade descrita objetivamente, seja
pela sua estrutura seja pelo seu comprometimento com uma determinada herança
sociocultural (como o folclore, os brinquedos tradicionais, etc...), não
necessariamente será lúdica para o sujeito que a vivencia. Ou seja,
objetivamente, podemos descrevê-la como lúdica, mas não necessariamente, ela
propiciará a todos, que a vivenciarem um estado de plenitude de experiência.
Vamos tomar, a título de exemplo, a brincadeira de “pular corda”.
Para mim, ela propiciará um estado interno de
inteireza, alegria, prazer, enquanto estiver, no seio de um grupo, pulando
corda. Dar-me-á inteireza, alegria, prazer, praticando essa experiência sozinho
e, ao mesmo tempo, na interação com as outras pessoas, participando e
partilhando da felicidade do momento. Todavia, para outra pessoa, esta mesma
atividade, poderá trazer desprazer, seja devido nunca ter pulado corda e não
estar interessada em tentar aprender agora, seja devido ter tido uma
experiência muito negativa com esse brinquedo em sua história pessoal de vida,
ou qualquer outro elemento que não lhe permita vivenciar agora essa experiência
com alegria, prazer, integridade. Assim sendo, objetivamente (quadrante
superior direito) a atividade é descrita como lúdica, porém, não
necessariamente ela trará a mesma experiência de plenitude para todos os
sujeitos que a vivenciam, ainda que o grupo seja um condicionante fundamental
para a entrega em uma atividade lúdica, como sinalizamos anteriormente. Poderá
sinalizar uma dor que, recentemente ou de há muito, estava dentro da pessoa,
convidando-a a buscar uma saída saudável para isso, que está impedindo o seu
fluir normal na vida.
A dor interna que a atividade lúdica, objetivamente
definida como lúdica, elicia, em uma prática, não é lúdica, por si, no sentido
que vimos compreendendo ludicidade, porém, a vivência dessa experiência que
mobiliza a dor pode ser um ponto de partida para a transformação da própria
experiência fragmentada em busca da experiência plena. Nesse sentido, as
atividades que são objetivamente tomadas como lúdicas e que, por alguma razão
interna da pessoa, possam fazer emergir alguma dor, limite ou dificuldade,
possibilita ao sujeito uma oportunidade da cura dessa dor, dificuldade
ou limite interno. Por cura, aqui, estamos entendendo uma oportunidade de fazer
contato com um aspecto doloroso de sua vida, mas que, também e ao mesmo tempo,
aponta para um aspecto saudável de si mesmo – da alegria, do prazer, da
convivência, da não-rigidez,...
Em síntese, ao afirmar que a atividade lúdica traz uma
oportunidade de experiência plena, importa estar atento para o “olhar” a partir
do qual estamos afirmando isso: a dimensão do eu, do interno. E é em função
dessa visão que defendo a idéia de que vivência lúdica propicia ao sujeito uma
experiência de plenitude, devido ela ir para além dos limites do ego,
que gosta de descrições específicas de cada coisa, que serve-se permanentemente
do julgamento, que se fixa em posições tomadas como as únicas certas,... A
descritiva comportamental individual e/ou coletiva, assim como os valores
comunitários, que sustentam essa experiência, compõem o entorno dessa sensação
de experiência plena, a serem tratadas por outros âmbitos do conhecimento, como
vimos acima.
[1] Doutor em Educação,
Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED/UFBA,
vice-coordenador do GEPEL – Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e
Ludicidade, vinculado à linha de Pesquisa Filosofia, Linguagem e Praxis
Educativa, do Programa de Pós-Graduação em Educação - FACED/UFBA.
[2] Cipriano Carlos Luckesi,
“Desenvolvimento dos estados de consciência e ludicidade”, in Interfaces da Educação, Cadernos de
Pesquisa – Núcleo de Filosofia e História da Educação, Programa de
Pós-Graduação em Educação, UFBA, vol. 2, no. 1, 1998, pág. 09-25.
[3] Cipriano Carlos Luckesi,
“Educação, ludicidade e prevenção das neuroses futuras: uma proposta pedagógica
a partir da Biossíntese”, in Educação e Ludicidade, Coletânea
Ludopedagogia Ensaios 01, organizada por Cipriano Carlos Luckesi, publicada
pelo GEPEL, Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED/UFBA, 2000, p. 21.
[4] Ground interno, aqui,
é tomado no sentido de base, suporte, capacidade de sustentar a própria
experiência a partir de uma qualidade interior fluída e não a partir de
recursos externos, aprendidos como lições que devem ser cumpridas.
[5] Ken Wilber, Uma breve História do Universo, Rio de
Janeiro, Ed. Nova Era, 2001.
[6] Ken Wilber, O olho do espírito, São Paulo, Ed.
Cultrix, 2001.
[7] Ken Wilber, União da alma
e dos sentidos, São Paulo, Editora Cultrix, 2001.
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