Eva Herman
A famosa apresentadora do “Jornal Nacional” alemão
despertou diante das (in)coerências do sistema
O
renomado cientista e professor para neurobiologia, Gerald Hüther, alerta há
muito tempo sobre o risco do uso de medicamentos ultra-potentes em crianças
pequenas, assim como sobre o pressuposto de que a TDAH tenha a ver com uma
verdadeira doença de origem biológica ou genética. Em uma entrevista, quando o
quadro clínico fora definido há décadas, o cientista afirmou que se desconhecia
como o cérebro infantil é moldável, como as estruturas cerebrais se formam a
partir das experiências feitas na infância. “Naquela época partia-se do
pressuposto de que só algum programa genético defeituoso é que podia levar às
disfunções”, disse Hüther. “Esta concepção foi vantajosa em várias
situações. Ela não responsabilizou quem quer que seja e retirou um peso não
apenas dos pais, mas também dos educadores e professores. E isso se ajustou ao
viés reparatório daquela época: se algo não funcionava direito, bastava então
ingerir um comprimido.”
Os
pais atingidos não deveriam se sentir atingidos quando educadores ou
professores acreditam que seus filhos tenham TDAH. Eles devem ouvir
primeiramente com tranquilidade e conversar com outras pessoas que conheçam seu
filho e também gostem dele. “Talvez algum deles tenha uma ideia como
ele poderia ser ajudado em casa, na escola e principalmente no convívio com os
amigos.”
O
neurobiólogo foi um dos primeiros críticos da “doença” e dos medicamentos
relacionados a ela, e foi o estopim de uma picante discussão técnica há alguns
anos. Hüther foi um dos poucos cientistas que se colocou como advogado das
crianças: “Os adultos devem decidir por si mesmo, se através da ajuda
de psicoestimulantes eles podem se ajustar melhor na absurda exigência de
desempenho de nossa sociedade atual. Mas as crianças ainda não podem decidir
sobre isso, esta decisão deve ser tomada pelos pais como adultos cientes de
suas responsabilidades.”Quase todo o restante do mundo profissional se
fechou em um decente silêncio sobre este gravíssimo tema.
O
descobridor da TDAH, o então neurologista norte-americano Leon Eisenberg, que
ocupou posteriormente a direção da psiquiatria do renomado Massachussets
General Hospital, em Boston, e se tornou um dos mais conhecidos neurologistas
do mundo, se engajou em 1967 juntamente com seu colega Mike Rutter em um
seminário da Organização Mundial de Saúde, com todos suas forças e contra a
imensa resistência dos profissionais psiquiatras, para que a suposta disfunção
cerebral figurasse no mundialmente difundido catálogo de disfunções psiquiatras
da WHO. Apesar do forte vento contrário – seja qual for a origem – ele
conseguiu ter “sucesso”. O psiquiatra lançou ao mundo um perigoso e maligno
espírito, o qual, à vista do experimentado lucro bilionário da indústria farmacêutica,
não vai desaparecer facilmente. Até hoje a suposta doença psíquica tem seu
lugar no Manual de Diagnósticos e Estatísticas, até hoje existem
milhões de pais que acreditam ter filhos doentes, e até hoje em dia circulam
milhões de meninos e meninas que acreditam ter um “tique grave”.
Tudo isso incomoda muito pouco a indústria farmacêutica e,
entrementes, apenas na Alemanha, seis empresas oferecem o medicamento sob
diversos nomes. Os polvos continuam a apanhar tranquilamente seus bilhões,
indiferentes a possíveis danos no corpo e na alma das crianças, indiferentes
também quanto à pressão sobre as jovens gerações, que devem apenas funcionar,
mesmo sobre o efeito de drogas, e indiferentes ao mundo. Eles não precisam mais
perguntar sobre as causa e motivos naturais, mas apenas inventar, sem escrúpulo
algum, moléstias artificiais para com isso faturar p´ra valer. Bem vindo ao
maravilhoso mundo novo!
Eva
Herman
Kopp-verlag,
02/04/2012.
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