sexta-feira, 2 de agosto de 2013

RITALINA


Eva Herman
A famosa apresentadora do “Jornal Nacional” alemão
despertou diante das (in)coerências do sistema
O renomado cientista e professor para neurobiologia, Gerald Hüther, alerta há muito tempo sobre o risco do uso de medicamentos ultra-potentes em crianças pequenas, assim como sobre o pressuposto de que a TDAH tenha a ver com uma verdadeira doença de origem biológica ou genética. Em uma entrevista, quando o quadro clínico fora definido há décadas, o cientista afirmou que se desconhecia como o cérebro infantil é moldável, como as estruturas cerebrais se formam a partir das experiências feitas na infância. “Naquela época partia-se do pressuposto de que só algum programa genético defeituoso é que podia levar às disfunções”, disse Hüther. “Esta concepção foi vantajosa em várias situações. Ela não responsabilizou quem quer que seja e retirou um peso não apenas dos pais, mas também dos educadores e professores. E isso se ajustou ao viés reparatório daquela época: se algo não funcionava direito, bastava então ingerir um comprimido.”
Os pais atingidos não deveriam se sentir atingidos quando educadores ou professores acreditam que seus filhos tenham TDAH. Eles devem ouvir primeiramente com tranquilidade e conversar com outras pessoas que conheçam seu filho e também gostem dele. “Talvez algum deles tenha uma ideia como ele poderia ser ajudado em casa, na escola e principalmente no convívio com os amigos.”
O neurobiólogo foi um dos primeiros críticos da “doença” e dos medicamentos relacionados a ela, e foi o estopim de uma picante discussão técnica há alguns anos. Hüther foi um dos poucos cientistas que se colocou como advogado das crianças: “Os adultos devem decidir por si mesmo, se através da ajuda de psicoestimulantes eles podem se ajustar melhor na absurda exigência de desempenho de nossa sociedade atual. Mas as crianças ainda não podem decidir sobre isso, esta decisão deve ser tomada pelos pais como adultos cientes de suas responsabilidades.”Quase todo o restante do mundo profissional se fechou em um decente silêncio sobre este gravíssimo tema.
O descobridor da TDAH, o então neurologista norte-americano Leon Eisenberg, que ocupou posteriormente a direção da psiquiatria do renomado Massachussets General Hospital, em Boston, e se tornou um dos mais conhecidos neurologistas do mundo, se engajou em 1967 juntamente com seu colega Mike Rutter em um seminário da Organização Mundial de Saúde, com todos suas forças e contra a imensa resistência dos profissionais psiquiatras, para que a suposta disfunção cerebral figurasse no mundialmente difundido catálogo de disfunções psiquiatras da WHO. Apesar do forte vento contrário – seja qual for a origem – ele conseguiu ter “sucesso”. O psiquiatra lançou ao mundo um perigoso e maligno espírito, o qual, à vista do experimentado lucro bilionário da indústria farmacêutica, não vai desaparecer facilmente. Até hoje a suposta doença psíquica tem seu lugar no Manual de Diagnósticos e Estatísticas, até hoje existem milhões de pais que acreditam ter filhos doentes, e até hoje em dia circulam milhões de meninos e meninas que acreditam ter um “tique grave”.
Tudo isso incomoda muito pouco a indústria farmacêutica e, entrementes, apenas na Alemanha, seis empresas oferecem o medicamento sob diversos nomes. Os polvos continuam a apanhar tranquilamente seus bilhões, indiferentes a possíveis danos no corpo e na alma das crianças, indiferentes também quanto à pressão sobre as jovens gerações, que devem apenas funcionar, mesmo sobre o efeito de drogas, e indiferentes ao mundo. Eles não precisam mais perguntar sobre as causa e motivos naturais, mas apenas inventar, sem escrúpulo algum, moléstias artificiais para com isso faturar p´ra valer. Bem vindo ao maravilhoso mundo novo!
Eva Herman

Kopp-verlag, 02/04/2012.

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