Mal-estar de Susanne Bier com os dramas eurocêntricos entra em metástase
Marcelo Hessel
10 de Março de 201
10 de Março de 201
"É assim que as guerras começam", diz o pai depois de buscar na escola o filho que caiu na provocação do bully. Isso que parece uma caricatura de sermão - as reações sempre exageradas dos adultos - no cinema da diretora dinamarquesa Susanne Bier é perfeitamente normal. Para ela, as guerras de fato começam assim.
E a guerra virou uma obsessão. Recentemente, Bier tocou no assunto de forma mais direta em Brothers, e hoje, assaltada por uma grandiloquência (ou uma culpa burguesa), ela parece não conseguir mais fazer pequenos melodramas sem antes contextualizá-los geopoliticamente. Mais do que nunca, há algo de podre no reino da Dinamarca. A consciência tem pesado.
Em um Mundo Melhor parte, assim como Depois do Casamento, de uma cena terceiro-mundista para só depois ambientar a trama na Europa. Estamos em uma nação africana em guerra civil, onde o médico sem fronteiras sueco Anton (Mikael Persbrandt) tenta salvar meninas esfaqueadas e violentadas pela facção criminosa dominante. Anton, como bom médico, não julga as pessoas que atende - não lhe cabe fazer justiça.
Mas Anton se vê diante de uma situação delicada quando, de volta para a sua casa, na Dinamarca, descobre que o seu filho e o novo amigo dele se vingaram do bully do colégio de forma agressiva. Dizer que violência só gera violência não basta, e posar de bom moço que dá a outra face também não adianta. As crianças estão decididas a consumar, também em outros aspectos do seu dia a dia, essa descoberta satisfação de revidar.
Como Susanne Bier nunca foi uma diretora de meias palavras, perdoa-se o seu exagero quase irresponsável de comparar a realidade cruel de um fim de mundo africano com as questões rotineiras dos belos loiros suecos e dinamarqueses. O que torna Em um Mundo Melhorinsuportável não são as cenas na África, mas a tentativa constante de enxergar em tudo aquilo que se move na Europa sintomas das doenças gerais da humanidade.
Então, no filme, se a avó do garoto diz inocentemente que"já instalamos internet no seu quarto", ferrou. Internet é a porta do mal. Se o avô guardava fogos de artifício no galpão, boa coisa não há de vir. Se os pais se separam, é um futuro apocalíptico que espera qualquer criança. E se as crianças gostam de passar a tarde no terraço de um edifício precário, então daí já viu. Em um Mundo Melhor é o filme da vida de quem decide educar os filhos em casa e não na escola. Em casa tudo é fotografia saturada, espreguiçadeiras à beira do lago e muitos abraços paternais.
Se pretendia colocar os seus personagens em um contexto complexo, e dar conta dos dramas mais variados, como o luto ou a rixa entre nações, o filme só consegue isolar e esvaziar esses personagens e esses dramas. O medo venceu, enfim. O mal-estar de Susanne Bier com o mundo entra em metástase. Hævnen
Dinamarca / Suécia , 2010 - 105 minutos
Drama
Drama
Direção:
Susanne Bier
Susanne Bier
Roteiro:
Susanne Bier, Anders Thomas Jensen
Susanne Bier, Anders Thomas Jensen
Elenco:
Ulrich Thomsen, Mikael Persbrandt, Trine Dyrholm, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-em-um-mundo-melhor/#.UmGdFtI_v4U
Ulrich Thomsen, Mikael Persbrandt, Trine Dyrholm, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-em-um-mundo-melhor/#.UmGdFtI_v4U
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